Quando António Guterres assumiu o mandato de secretário-geral das Nações Unidas em janeiro de 2017, a comunidade internacional abraçava coletivamente a ideia generosa de trabalharmos juntos para, até 2030 e com base nos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), dar resposta aos problemas e aflições das Pessoas e do Planeta, promovendo a Prosperidade e a Paz, através de Parcerias entre Organizações Internacionais, Estados, organizações da sociedade civil e setor privado, os chamados 5 Ps do desenvolvimento.
Em 2015, quando as Nações Unidas substituíram os ineficazes Objectivos do Milénio pelos ODS, poucas pessoas tinha dúvidas de que o plano proposto era ambicioso e muito complexo, mas a nova agenda entrou na imaginário das pessoas e das organizações um pouco por todo o mundo, permitiu uma nova compreensão dos desafios e das respostas pretendidas, com metas e calendário, e até estabeleceu uma linguagem partilhada sobre o que significa e como se mede o desenvolvimento.
Passado poucos anos, a pandemia paralisou o mundo durante 2 anos. Mas ao invés de aprofundar os mecanismos de cooperação entre os Estados e as organizações para sermos capazes de vencer coletivamente uma ameaça comum, as divisões entre países e pessoas tornaram-se mais visíveis e quebraram-se os mecanismos de colaboração e parcerias que tinham levado muitos anos a construir. A pedido da Assembleia-Geral, Guterres apresenta em setembro de 2021 uma nova iniciativa onde relança a Agenda dos ODS e interpela os Governos a colaborarem para sermos capazes de recuperar o tempo perdido. Menos de 6 meses depois, a Rússia, um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e exercendo a respetiva presidência, invade um Estado soberano em clara violação da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional, lançando a Comunidade Internacional em (mais) um conflito armado e a ONU numa nova crise de legitimidade.
Para tentar repor o comboio do desenvolvimento sustentável nos carris, o secretário-geral da ONU lançou a Cimeira do Futuro que terminou ontem em Nova Iorque e que pretende dar coerência e urgência à resposta que o multilateralismo oferece para os desafios que enfrentamos na implementação dos 5 Ps, com especial atenção aos jovens e recorrendo à ciência.
O séc. XXI tem sido marcado pela crise permanente: o ataque às Torres Gémeas em 2001, a crise financeira de 2008, a pandemia de 2020, a guerra na Ucrânia em 2022 e no Médio Oriente em 2023, a que se somam as alterações climáticas e a revolução digital. Com a Agenda para o Futuro, António Guterres procura cumprir a missão da ONU e impedir que a Humanidade se autodestrua.
Mas a História mostra-nos que não é uma tarefa fácil e o tempo corre contra todos nós…
Bernardo Ivo Cruz, Professor convidado IEP/UCP e NSL/UNL, membro do Conselho Diretivo do Clube de Lisboa
Artigo originalmente publicado no Diário de Notícias, em 24 de setembro de 2024.
Imagem: UN Photo/Loey Felipe, setembro 2024.