Especialista em recursos defende que boa gestão implica vontade política e informação

Lisboa, 26 jun 2019 (Lusa) -- Gerir bem os recursos naturais implica vontade política, capacidade técnica e informação, afirmou à Lusa uma especialista do setor, destacando que os governos têm de enfrentar uma multiplicidade de atores internacionais, nem sempre escrupulosos.

Audrey Gaughran, diretora de programas regionais no Natural Resources Governance Institute (Instituto de Governação dos Recursos Naturais, IGRN) afirmou que as decisões dos governos de países ricos em recursos naturais dependem da vontade política, mas também do acesso à informação.

"Nem sempre os governos têm acesso ao melhor aconselhamento e apoio e têm de lidar com atores internacionais influentes, alguns pouco escrupulosos", adiantou à Lusa, à margem de uma conferência internacional sobre recursos naturais que decorreu na terça-feira em Lisboa.

A responsável do IGRN, que tem sede em Nova Iorque, apontou várias razões para que os recursos naturais sejam considerados "uma maldição" para alguns países, desde grupos armados em zonas de conflito que querem controlar os recursos para obter financiamento à atração de atores internacionais pouco éticos que "geram contextos de corrupção" para lhes facilitar o acesso e salientou que esta "tentação" tende a anular outros investimentos.

"Isso significa que os países ricos em recursos naturais tem menos probabilidade de desenvolver uma economia diversificada e ficam dependentes desses recursos que assumem uma importância desproporcional na economia do país", salientou.

Audrey Gaughran reconheceu que as empresas extrativas "tendem a retirar vantagem de contextos de governos fracos ou de contextos em que sabem mais do que os governos" locais, mas acrescentou que o papel destas corporações é fazer dinheiro para os seus acionistas.

"É preciso ter isto em conta quando se negoceia com as empresas que vão investir: não são elas que têm de proporcionar benefícios às populações, esse é o papel do governo", vincou.

 

Artigo publicado no Diário de Notícias, 26.06.2019