
A Aceleração das Mudanças Globais e os impactos da pandemia
Esta publicação resume as intervenções e debates da 4ª Conferência de Lisboa. O evento, na sua primeira edição online, decorreu entre 30 de setembro e 2 de outubro de 2020 e foi organizado em redor de um conjunto de temas que têm regido algumas das preocupações dominantes da agenda internacional, desde as questões da geopolítica e do desenvolvimento, da tecnologia e da segurança, às da sustentabilidade e das alterações comportamentais face ao ritmo das mudanças e ao medo do desconhecido.
Abertura
“Faz falta este tipo de dinamismo e expressão da sociedade civil na comunidade nacional que todos integramos. Saúdo e agradeço pelo facto de, ano após ano, escolher temas de atualidade, os mais prementes à escala internacional e à escala interna.” – Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa
"Sairemos daqui com mais questões, com mais interrogações do que aquelas com que entramos, mas provavelmente essa é a vocação deste tipo de exercícios, que é evitar a resignação, evitar que fiquemos, pura e simplesmente, indiferentes perante as grandes questões mundiais (...)" – Francisco Seixas da Costa, Presidente do Clube de Lisboa
PESSOAS | Oito mil milhões de pessoas, e então?
No painel “Oito mil milhões de pessoas, e então?” foram abordados os modelos demográficos dominantes que preveem um aumento da população mundial até ao final deste século, e das correntes alternativas que defendem que o crescimento populacional está a estabilizar e irá decrescer, consequência da urbanização e da queda das taxas de fertilidade. Nos países ocidentais, a população em idade ativa tem vindo a baixar, principalmente devido à diminuição dos nascimentos. A população em África ainda apresenta uma tendência de crescimento, apesar da previsão de estabilização, consequência da urbanização e da aposta na educação das raparigas em áreas rurais.
Oito mil milhões de pessoas, e então?
O Desafio das Mudanças Globais
"A pandemia exacerbou desigualdades e fragilidades prévias, que exigem um repensar de abordagens no processo de recuperação." - António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas
O Desafio das Mudanças Globais
PLANETA | As divergências sobre a ação climática: que energia para qual futuro?
No debate sobre “As divergências sobre a ação climática: que energia para qual futuro?”, foram feitas diversas considerações, desde a importância do biológico e da atividade agrícola para a transição energética, à necessidade de tecnologias mais eficazes e economicamente viáveis para a generalização de energias renováveis. As consequências da pandemia revelam sinais promissores, como a redução nas emissões de gases com efeito de estufa, ou a regeneração da biodiversidade que, todavia, poderão ser apenas resultados temporários, caso não ocorra uma profunda alteração de estilos de vida. A pandemia, tal como as alterações climáticas são problemas de ação coletiva global, cujo impacto é mais severo no hemisfério Sul, exigindo uma resposta multilateral por parte de instituições internacionais fortes e orientadas para a cooperação.
As divergências sobre a ação climática: que energia para qual futuro?
PAZ | O medo como arma política
No painel sobre “O medo como arma política” houve um debate sobre os vários tipos de medo e como este é essencial à vida humana. Foi referido que um dos grandes problemas tem sido o medo do outro, manipulado com objetivos políticos por líderes autoritários. O autoritarismo e a utilização do medo no discurso aos cidadãos está hoje muito vivo em várias geografias, quer seja nos Estados Unidos, ou em países da África, América Latina e da Europa. Foi salientado que uma das principais fontes de medos tem sido a falta de conhecimento, e que, por isso, as sociedades devem apostar no conhecimento, para diminuir as desigualdades e dar maior segurança às pessoas.
O medo como arma política
Portugal e as Mudanças Geopolíticas
"A evolução da pandemia também mostrou que lá onde nós conseguimos cooperar, lá onde nós conseguimos colaborar coletivamente, avançamos." – Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros
Portugal e as Mudanças Geopolíticas
PROSPERIDADE | O dilema desigualdades-crescimento
O debate sobre “O dilema desigualdades-crescimento” mostrou que o modelo de crescimento globalizado contribuiu para a redução da pobreza e desigualdade globais — muito devido ao desenvolvimento de países como a China e a Índia —, verificando-se, porém, uma convergência hemisférica em que a desigualdade dentro dos países teve tendência a aumentar no hemisfério Norte e a reduzir-se no hemisfério Sul. A lei tem desempenhado um papel fundamental na criação e perpetuação destas desigualdades estruturais e hierarquias de direitos, sendo na verdade o código essencial para a criação e concentração da riqueza. A própria pandemia tem vindo a refletir e acentuar desigualdades, desde logo na incidência das taxas de infeção e mortalidade, no mercado de trabalho entre profissões, ou nas consequências decorrentes do encerramento de escolas.
O dilema desigualdades - crescimento
PROSPERIDADE | Como a aceleração tecnológica molda as nossas vidas
Na discussão sobre o tema “Como a aceleração tecnológica molda as nossas vidas” foi ressaltado que algoritmos, sensores, deep learning, robotização e big data são componentes essenciais da atual revolução digital, que impulsiona a implantação de um novo sistema global de produção e vigilância, cruciais para a competição global e para o controlo por parte de Estados e grandes corporações. Referiu-se também a importância do aumento da diversidade no tipo de pessoas a trabalhar as questões de IA, de forma a permitir uma maior inclusividade. Falou-se ainda da dificuldade das empresas europeias de tecnologia competirem no cenário mundial, de certa forma, por estarem mais regulamentadas por códigos normativos de defesa de valores fundamentais das democracias liberais, em comparação com as dos EUA ou da China, cujos mecanismos de regulação e financiamento são mais ágeis.
Como a aceleração tecnológica molda as nossas vidas
PAZ | Democracia liberal e multilateralismo debaixo de fogo
No painel sobre “Democracia liberal e multilateralismo debaixo de fogo” foi enfatizado que, como resultado do enfraquecimento da Ordem Internacional criada no rescaldo da II Guerra Mundial, o multilateralismo e a democracia liberal têm estado sob forte ataque. Foi destacada a ascensão de movimentos populistas através do aproveitamento político de tendências disruptivas que se têm verificado no Ocidente nas últimas décadas, em consequência das mudanças económicas e socioculturais e, em última instância, do aumento das desigualdades. Foi referida a atitude anti-multilateralista da administração Trump nos EUA e as tendências que já decorriam da viragem económica deste país para o Pacífico, subalternizando a União Europeia como parceiro privilegiado.
Democracia liberal e multilateralismo debaixo de fogo
PARCERIAS | Que União Europeia para que admirável mundo novo?
No debate “Que União Europeia para que admirável mundo novo?” foi ressaltada a profunda influência, no processo de integração europeu, desempenhada pelas mudanças geopolíticas e geoeconómicas globais. Foi também referido que, apesar das respostas nacionais à pandemia terem começado por ser descoordenadas, e não obstante a continuação de tendências nacionalistas e tensões entre abordagens intergovernamentais e comunitárias, a recente resposta da Comissão Europeia para lidar com a crise no contexto da pandemia tem-se revelado bastante positiva. Esta resposta, e a comunitarização da recuperação económica que ela implica, foi apontada não só como um momento histórico na vida da Europa, demarcando-se da resposta à crise de 2008, mas também como uma ferramenta de combate ao populismo em ascensão.
Que União Europeia para que admirável mundo novo?
Do Game Boy à Covid-19: conversa aberta entre millennials
Na mesa redonda “Do Game Boy à Covid-19: conversa aberta entre millennials” foram muito discutidas as questões relativas aos modelos de educação e expectativas de trabalho. Salientou-se que os sistemas educativos colidem com as necessidades da sociedade e que a consciência deste facto nunca foi tão clara e generalizada como hoje, dada a aceleração tecnológica e a multiplicação de novas crises. A estabilidade profissional e do emprego esvaiu-se, tornando mais visíveis as desigualdades entre gerações, os desfasamentos entre competências e necessidades. Desta análise surgiu como corolário a importância em apostar em áreas transversais, com ênfase no humanismo e na inclusividade, bem como se destacou a necessidade de combater as notícias falsas que circulam nas redes sociais.